Depois de mais de seis meses fora do circuito nacional, Carlos Alberto Bittencourt, ex-vice presidente e homem forte da Confederação Brasileira de Futsal, aparece com uma ação trabalhista contra a Liga Futsal e denuncia que há irregularidades na entidade máxima do futsal brasileiro, as quais teria enviado à apreciação de órgãos públicos. Reconhece que recebia salário da Liga (em torno de R$ 12 mil mensais) sem declarar o valor ou pagar imposto sobre ele.
"Vou cobrar meus direitos pelo meu trabalho na Liga, não pelo trabalho que fiz na Confederação. Na Liga eu era profissional, ganhava meu dinheiro, tem balanço e tudo. Todo mundo ganha dinheiro da Liga, todos eram remunerados e eu comandava. E além de comandar eu arrumava patrocínio e não ganhava nada. Eu convivia com essa situação, sou cúmplice, tenho que falar a verdade. Se for pra falar mentira não vou falar nada", relata Bittencourt, que confessa: "existem muitas irregularidades na CBFS. Fui conivente, só não meti a mão no dinheiro".
O dirigente mantém esperanças de ganhar a eleição para presidência da CBFS na Justiça e acusa o atual presidente, Aécio Borba de Vasconcelos, de pagar as dívidas da Federação Cearense para esta ganhar condição de voto a presidência da CBFS, e de interferir em sua declaração de Imposto de Renda, impedindo que pudesse tirar a certidão negativa.
Bittencourt confirma que a CBFS pagou passagens, estadia, alimentação e deu 2.500 dólares em dinheiro para cada um dos presidentes das federações de futsal irem à China acompanhar o Mundial. Diz ainda que os presidentes exigiram que o dinheiro fosse depositado em conta de pessoa física para não terem que justificar as suas entidades. Confira a entrevista:
JF- Atualmente você está atuando no futsal?
Bittencourt– Apenas dando palestras sobre futsal, como começou e até o momento em que dirigia o Departamento Técnico. Graças a deus 95% dos salonistas sabem que eu mandava no futsal nacional e tenho uma grande colaboração do futsal internacional. Sempre me convidam, não para palestrar e sim para conversar sobre o Futsal. Infelizmente, por motivo de conhecimento de todos os salonistas, descaradamente estou afastado da CBFS, que tenho certeza que ela só existe pelo meu trabalho, juntamente com Mário Lopes, Paraguassu, Daniel e principalmente Dr. Álvaro de Mello Filho e todos os presidentes de federações.
JF- O que está fazendo?
Bittencourt– Estou atualmente me dedicando à minha vida profissional, pois, não sou político, a minha firma é uma das grandes representantes da DalPonte e continuo correndo atrás do que depois de me dedicar 37 anos ao futsal, tentando voltar a fazer negócios no mercado internacional de cacau. E tenho tempo para minha família e agora os meus netos Lucas e Bruno.
JF- Você foi alijado do futsal, sente-se excluído?
Bittencourt– Não me sinto excluído, apenas momentaneamente de fora, mas, tenho contato com todos os presidentes que de acordo com a ata da eleição me apoiaram. Contato quase diariamente com todos os presidentes, como exemplo mais diário: Edson Nogueira, Firmino Dias Lopes, Roberto Silva, Osmar Oliveira, Nelson Matias, Auzemir, Almeida, Nei e recebendo sempre palavras carinhosas dos amigos reais salonistas, como Saul Brandalise, Ararino Salun Oliveira, Baka, Emir, Rubens Bueno, Paraguassu e Daniel. A maioria dos presidentes sul-americanos, não posso me achar excluído.
JF- A CBFS dá por encerrado o processo eleitoral. Você ainda tem esperanças de reverter a eleição, como ficou o caso?
Bittencourt– Sei que é difícil mas não impossível, estou esperando como sempre atuei, esgotar a Justiça Esportiva, caso não obtenha sucesso entrarei na Justiça Comum. Meus advogados estão conversando comigo. Lamentavelmente a nossa Justiça e o atual quadro político, não dão esperanças, mas continuarei lutando pelos 19 votos que me apoiaram.
JF- Apesar de estar brigando na Justiça por um revés na eleição, aonde você acha que errou no processo? Se a sua candidatura tivesse sido aceita, mesmo com as federações impedidas de votar, ainda assim você poderia ter ganhado o pleito, não aconteceu um erro? não faltou melhor orientação?
Bittencourt– Tenho certeza que não houve erro algum, apenas, como eu já sabia, o adversário era muito competente, nunca poderia chegar a conclusão que o mesmo seria fichinha – um Delúbio, Waldemar da Costa, Roberto Jeferson, Duda Mendonça e José Dirceu. Eu acho que este foi o nosso erro. Só para você ter conhecimento, 19 presidentes de federações solicitaram uma reunião extraordinária, mais de 2/3 das federações. O presidente da CBFS conseguiu junto à Justiça cearense suspender a reunião. Tenho que considerar que realmente voltamos, como ele sempre foi, coronealista. Além de comandar o pleito, proibindo a presença dos presidentes das federações a votar, mas, descaradamente, deu condições a Sergipe, Rio Grande do Norte e Alagoas e pagando todas as dívidas da Federação Cearense – informação esta do próprio presidente Sílvio Carlos. Estas federações tiveram direito a voto porque apoiaram a chapa dele. Os Presidentes das 19 Federações estão marcados na vida do futsal brasileiro, foram impedidos de entrar na sua própria casa e recebidos por seguranças armados e policias de elite do Ceará. E o maior mentiroso do futsal, escrevendo nos seus discursos, enganou a todos, principalmente a mim, informando que não seria mais candidato, pois, não tinha mais nenhuma condição de dirigir a CBFS. Para continuar razão muito forte deve existir. Acabou criando uma serie de situações que nunca havia existido na entidade.
JF- Você diz que seus opositores agiram inescrupulosamente, com falsas acusações. Como foi o caso de seu imposto de renda?
Bittencourt– Em duas reuniões em que Edson Nogueira, precisamente no dia 14 de janeiro, me telefonou informando que Aécio tinha lhe informado que eu não tinha condições de concorrer às eleições, pois eu tinha um problema muito grave com a Justiça Federal. Disse a Edson que não me preocupava com as informações pois sempre tive minha consciência tranqüila, nunca tive um cheque devolvido, um título protestado, nunca fui taxado ou insinuado de participar de esquema. Sempre tive e tenho o meu nome limpo. E sempre declarei o que recebi oficialmente na minha declaração de imposto de renda. Quando do Edital publicado pela CBFS, convocando as eleições no dia 22 de janeiro, para complementar as exigências da convocação totalmente ilegal, solicitei da Receita uma certidão negativa que, em julho para tirar o visto da China, recebi normalmente, como sempre, e por motivo de já estar vencida fiz uma nova solicitação e não consegui a emissão. Fui informado que na minha declaração de 2004 foi solicitada uma alteração devido a um esquecimento de minha pessoa, em declarar que eu tinha recebido, de quem até agora não chegou a resposta a minha pessoa, a quantia de 144.000.00 mil reais. Que o pagamento foi feito sem dedução dos 27% na fonte.
Automaticamente, achei que o dinheiro era o pagamento da Liga Nacional, que todos sabiam da existência e o próprio presidente, que de acordo com o estatuto só se pode pagar com autorização do mesmo, e que sempre foi pago a minha pessoa em troca de documentos enviados para a nossa secretária Maria Auxiliadora.
Depois desta informação dada por Aécio ao Edinho, não tenho a menor dúvida que foram eles que tentaram me prejudicar. Como hoje os atuais dirigentes, não todos, sempre se envolveram com este tipo de armação, inclusive títulos do Governo Federal. Se leram esta entrevista tenho certeza que a pessoa sabe do que eu estou falando.
JF- Em entrevista que fizemos no mês da eleição você havia dito que o processo eleitoral estava "nojento" e que jamais entraria em uma nova eleição. Que balanço faz agora?
Bittencourt– Estava, foi nojenta, e continua, pois, pessoas como Hans Werner, presidente da Federação Catarinense, Edson Nogueira, Osmar Oliveira, Rudy Vieira, Beto Vieira, Gláucio de Castro, as funcionárias da CBFS, que foram demitidas, tenho certeza que ninguém mais nojento que seja, não pode estar dirigindo uma entidade com a cabeça erguida, nem coloca a cabeça no travesseiro e dorme bem. Quem conhece bem as minhas propostas, pois me preocupei em fazer e enviar e discutir com os 19 presidentes, aceita por todos, estão praticando atualmente muito mal, embora com o dinheiro que estão recebendo. E eu posso dizer, muito dinheiro para deixar Federações desistirem de participar por que não pagam passagem, alimentação e hospedagem. Pode analisar, que na maioria das competições, quantas federações deixaram por motivo econômico, não se apresentaram.
JF- Na eleição anterior algumas federações, como a Paulista, fizeram movimento contra a reeleição do Aécio, inclusive exigindo a saída do vice-presidente Vicente Piazza, e nesta última eleição votaram nele. E a Federação Paulista ainda elegeu o Piazza como vice-presidente da Paulista. Qual sua avaliação sobre esses fatos?
Bittencourt– Todos sabem do relacionamento de Piazza com Ciro, nada preciso dizer. Nada tenho contra o Piazza, pois nunca me fez nada e sempre colaborou como pôde para o futsal. Quanto a Ciro, é mais uma decepção, por ter participado desta trama, mas só lamento.
JF- O Sr. Aécio de Borba Vasconcelos foi seu parceiro de diretoria durante muitos anos, praticamente desde a fundação da CBFS. Em boa parte desse período você comandou a entidade, já que o Aécio era envolvido com a política cearense e nacional. Na eleição anterior as Federações não queriam mais a presença do Aécio, alegando que as contas da CBFS não batiam. Certamente você conhece bem todos os meandros da entidade. Há irregularidades na Confederação Brasileira de Futebol de Salão?
Bittencourt– Claro que existem, mas ainda não posso falar do assunto.
JF- Se existem irregularidades o senhor deveria denunciar mais detalhadamente. Tem a CPMI dos Correios que encaixa perfeitamente bem nesse aspecto, já que os Correios são patrocinadores da CBFS. Já pensou nessa possibilidade?
Bittencourt– Já encaminhei ao Ministério da Justiça, Ministério Público, Ministério do Esporte, Presidência da OAB, vou esperar as respostas.
JF- No Mundial da China, em Taipei, a CBFS pagou passagens, hospedagem, alimentação e uma gratificação em dinheiro a todos os presidentes das Federações Estaduais. O que realmente foi pago pela CBFS?
Bittencourt– Quanto ao convite aos presidentes irem a China, participei da reunião, concordei em pagamento das despesas de passagem, hospedagem, alimentação e ingresso. Quanto aos depósitos nas contas de pessoa física de todos presidentes que foram, infelizmente só tomei conhecimento pelos mesmos presidentes que receberam, sem nenhuma dedução, e a maioria dos presidentes, informaram que só receberiam se fosse depositado na conta pessoal, pois, se fosse nas contas das federações não poderiam comprovar. Então entendam, e também nos convites feitos pela Confederação e assinada pelo presidente, ele informava que este convite não tinha nada a ver com eleição, pois, o mesmo não era candidato e também não dirigiria mais os destinos da CBFS, pois, não tinha mais condições gerais.
JF- Tenho estranhado que agora tudo o que estava errado foi sua culpa. Se a seleção perdeu é porquê você mandava, se a Liga não distribuía verba aos participantes, era você quem administrava, se as competições nacionais não andavam, era você o responsável. Quem vive o meio salonístico sabe que você realmente era o homem forte do futebol de salão brasileiro. Mas você é o culpado de tudo o que teve de errado? O presidente não mandava em nada?
Bittencourt– Antes da seleção do último mundial mandei, e sempre as minha decisões eram aprovadas porque sempre foram normais e honestas, inclusive preservando o nome e o respeito que a CBFS sempre teve. Depois da reunião, que houve em Caxias do Sul (RS), em outubro, nas festividades da Liga Nacional, tivemos uma reunião entre Eu, Aécio, Cloves Tramontina e Leonildo DalPonte para acharmos um denominador comum para a situação, pois o Dr. Álvaro de Mello já tinha me informado que já tínhamos perdido o mundial, pois tinha muita gente mandando e não sabiam quem mandava. O Cloves Tramontina e Leonildo DalPonte fizeram um apelo a Dr. Aécio para apoiar a minha candidatura e ele seria o Presidente de Honra da CBFS, representando a mesma em todas as competições internacionais, e ele indicava o Diretor Financeiro. O mesmo disse que não me apoiava e ia lançar um candidato, que era o Dr. Álvaro de Mello, o que de pronto aceitamos. Mas em conversa com Leonildo e Álvaro, este informou que não aceitava e que o candidato das federações era Carlos Bittencourt.
JF- E as críticas com relação à seleção brasileira. Você reconhece que houve erros no passado?
Bittencourt– São críticas que todos sabem que não mereço, mas as pessoas quando não têm argumento, falam o que querem. Todos nós somos sujeitos a erros, e eu devo ter cometido muitos, como chegar ao título de pentacampeão do Mundo, e bi do fair play, ninguém se lembra, mas, quanto ao mundo todo, inclusive (João) Havelange em pronunciamento disse a seguinte frase: Ser pentacampeão, bi-fair play e sul-americano precisa muita disciplina e comando. Tudo isto era destinado a minha pessoa, que eu divido com Álvaro de Melo (jurista e ex-presidente da CBFS), Mário Lopes (falecido, foi diretor da CBFS), Takão (Eustáquio Araújo, ex-técnico da Seleção Brasileira), Rudy (Vieira, supervisor do ACBF), Beto (Vieira, preparador físico da seleção), Luciano Frota, Aloir Oliveira, Marcelo Soprano, Afonso e todos os atletas campeões do mundo, que sem eles nada se ganharia. Os atletas e comissão técnica são responsáveis pelo invejável nome do futsal brasileiro no mundo.
JF- Você está entrando com ação trabalhista contra a CBFS, requerendo direitos da Liga Futsal. Como está esse processo?
Bittencourt– Sobre a Liga, farei uma entrevista depois das conversas que vou ter com meus advogados. Quero informar que a Liga foi um trabalho muito eficaz, mas tenho que lembrar a Universo Esporte de Sérgio Vilela, Claudia Guedes, Ana Alice, Mário Lopes, Paraguassu de Figueiredo, José Carlos dos Santos, Kock Tavares, DalPonte, Penalty, Topper, Umbro, Poker e a uma pessoa muito especial: Ricardo Trade e sua equipe, MKT Sports. Esta empresa deu a liga o nome e a divulgação que merece. As televisões Sportv, Redetv, todas as rádios e jornais e todos os franqueados, porque sem a ajuda deles nada tinha acontecido.
JF- O momento político brasileiro está propício para denúncias, parece ter chegado a hora de colocar tudo em pratos limpos. O que você espera nesse caso?
Bittencourt– Esperar a justiça é a única coisa que posso almejar. Lisura e responsabilidade.
JF- Tem algum assunto que acabamos não abordando? Faltou alguma coisa a falar?
Bittencourt– Para encerrar esta entrevista, é com muito pesar que lamento o que aconteceu no dia 29 de janeiro de 2005 na casa do Futsal (eleição para presidência da CBFS). Eu e os 19 presidentes de federações, que sei desta marca, a ferida, a situação, nunca vamos nos esquecer (foram barrados na CBFS).
Alguns presidentes me telefonaram para saber se aceitavam a esmola que a presidência estava oferecendo, achando que ela iria reverter a situação feita por ele (Aécio) em 29 de janeiro. Indiquei a todos que deveriam aceitar, pois, no meu projeto era uma coisa ampla. Todos conhecem o meu projeto.
Mas a coisa mais absurda do Aécio foi quando ele determinou a proibição de Jaime Walker e Leonildo DalPonte, respectivamente diretor Comercial e presidente da empresa que patrocina e fornece material esportivo para o futsal do Brasil, de poder assistir a eleição. Talvez já premeditando o que ia fazer, não queria que aqueles que o ajudavam presenciassem a nojeira que aconteceu. Mas não teve a dignidade de pelo menos solicitar pessoalmente a retirada dos mesmos, mandou seus seguranças impedirem que eles assistissem a manobra indigna para o futsal brasileiro.
Se ele fez com quem ajuda, paga e sustenta o futsal brasileiro, faria ainda com qualquer um. Com a pessoa que mesmo na última reunião da Liga, na presença de muitos salonistas, em Caxias do Sul, no encerramento da Liga, elogios a minha pessoa, mais do que fez nestes últimos 25 anos. Todos que participaram e esperavam uma solução para o problema não entenderam nada e me procuraram para saber se Aécio tinha aderido a conversa de Cloves e Leonildo. Realmente ainda não cheguei a uma conclusão, por isto me reservo o direito de outros pronunciamentos.
